Adho mukha śvānāsana - Cão com a cabeça para baixo

Adho mukha śvānāsana - Cão com a cabeça para baixo

A postura do cão com a cabeça para baixo, adho mukha śvānāsana, é das mais usadas na prática do yoga. Contudo, como requer alguma permanência na postura, ou seja, a duração de cinco respirações completas na maior parte das vezes que se faz, noto que algumas pessoas tendem a não achar muita graça a esta posição do corpo. Por isso mesmo pretendo, além de explicar como se faz, informar sobre os benefícios da mesma, esperando assim encorajar a que a façamos com mais empenho, consciência e gosto.
Normalmente entra-se em adho mukha śvānāsana após a postura de ūrdhva mukha śvānāsana (cão com a cabeça para cima) ou após a postura de quatro apoios no chão. Esta última consiste em estar com os joelhos no chão, afastados à largura da bacia, tronco paralelo ao chão, palmas das mãos no chão, com os dedos a apontar para a frente e bem afastados entre si, ombros alinhados com os pulsos.
A partir daqui, colocamos a ponta dos dedos dos pés no chão, inspiramos profundamente e com a expiração erguemos o corpo, mantendo as palmas das mãos no chão, dedos das mãos bem afastados entre si, braços e pernas esticados ou cotovelos e joelhos ligeiramente fletidos se for necessário, calcanhares um pouco rodados para fora, plantas dos pés idealmente a tocarem no chão, costas bem tracionadas, peito alongado e em direção às coxas, ísquios e cóccix a apontar para o céu, cabeça solta entre os braços com o olhar na direção dos joelhos ou umbigo e muito importante ativar os bandhas (contração e elevação do assoalho pélvico e contração da musculatura abdominal). Completamos deste modo a postura do V invertido ou cão com a cabeça para baixo, que recebe em sânscrito (língua morta da Índia) o nome de adho mukha śvānāsana
Adho mukha quer dizer estar com a face para baixo, śvānā significa cão, āsana significa postura. A posição assemelha-se a um cão a esticar-se com as patas dianteiras alongadas, cabeça para baixo e parte superior das patas traseiras a apontar para cima, daí o seu nome.
Nesta, como em todos os āsana (posturas físicas) só o corpo deverá estar ativo, enquanto a mente deverá estar passiva, alerta e consciente. A respiração, apenas nasal, deverá ser o foco da nossa atenção, inspirando e expirando de modo completo e profundo.
Pode dizer-se que se trata de uma postura estimulante e os seus benefícios são vários. É uma posição magnífica para recuperar a energia perdida em āsanas anteriores porque remove a fadiga (mesmo sem ser durante a prática de yoga, ela é ideal também para os corredores repousarem após uma corrida fatigante). Alivia as dores e tensão nos calcanhares, mesmo para quem possa ter esporão do calcâneo. Fortalece os tornozelos e define os músculos das coxas. Elimina a rigidez na região das omoplatas e alivia a artrite da articulação do ombro. Fortalece os nervos e músculos dos braços e pernas bem como os músculos abdominais. Como o diafragma sobe para a cavidade peitoral, o batimento cardíaco diminui; uma vez que o tronco está baixo, acaba por ser considerada uma posição invertida, trazendo sangue saudável de volta ao coração e em especial à região da medula espinhal tonificando todos os nervos espinhais. Alonga muito bem as costas, ganhando espaço entre os discos intervertebrais. Rejuvenesce e revigora as células do cérebro, visto que alivia a fadiga.
Como tudo na vida, a postura tem as suas limitações e não deve ser praticada por quem sofre de síndrome do túnel do canal cárpico, pressão arterial alta, deslocamento da retina ou luxação do ombro.
Mesmo quem sofre destas patologias poderá e deverá encontrar o seu caminho, talvez com menos permanência ou fazendo compensação da postura, mas será uma pena deixar de praticar yoga ou permitir que as nossas limitações e condicionalismos superem os nossos ideais.
Procuremos beneficiar do nosso adho mukha śvānāsana. É fácil e dá saúde.

 

Texto escrito por Cristina Diniz