Auspicioso Ganesh (Gaṇeśa), portador de prosperidade e sabedoria

Auspicioso Ganesh (Gaṇeśa), portador de prosperidade e sabedoria

Nas práticas de yoga por vezes entoam-se kīrtans, versos em sânscrito expressos com melodia, cantados. Essas composições poéticas versam sobre variados temas, desde o conhecimento de si mesmo, o esplendor do divino sol, uma vida com paz para todos, a retidão na governação, desejos de uma terra fértil, a plenitude do ser humano, a prosperidade… e outras vezes abordam a mitologia hindu e uma alegre diversidade de deuses.
Ao percorrermos as ruas da populosa Índia, ao visitarmos um recôndito e isolado templo, uma loja, uma casa, ou uma escola, não damos dois passos sem que nos deparemos com uma estatueta, um quadro, ou uma outra qualquer imagem de um deus hindu. O devoto povo delicia-se com as suas divindades, entoa cânticos enaltecendo-as ou apelando à sua proteção, visita templos e enche festivais coloridos de divindades. Cada uma dessas deidades hindus tem um profundo significado, é uma intensa alegoria.
Um dos mais populares e admirados deuses da Índia é Ganesh (Gaṇeśa). Ele tem, como de resto todos os outros avatares de deuses, uma história bonita e de excêntrico charme. Homenageamos agora esse deus com corpo de menino e cara de elefante, contando a sua proveniência e desejando que seja auspicioso e traga prosperidade a todos.
Embora Deus seja apenas um, os seus aspetos são variados e essas manifestações diferentes de Deus constituem o panteão hindu. Bhrama, Vishnu (Viṣṇu) e Shiva (Śiva) são os seus três aspetos, Brahma é o criador, Vishnu, o que preserva e Shiva, o destruidor.
Shiva faz assim parte desta trindade, é o criador mítico do yoga, o destruidor de obstáculos, o soberano do povo ganas, a hoste de demónios que o servem fielmente. Shiva é pura consciência, não é uma divindade dinâmica, delega toda a ação e preocupações mundanas na sua consorte, ele é indiferente ao mundo externo, é um Yogi omnisciente passando o seu precioso tempo em contemplação do seu Eu Superior, vivendo uma vida ascética.
Reza então assim a lenda do deus com cabeça de elefante. Parvati (Pārvatī), consorte de Shiva e filha da montanha, banhava-se num lago límpido quando criou e deu a vida a Ganesh a partir da sua própria pele e da lama, tendo nascido um menino saudável, enérgico e perfeito. Colocou-o cuidadosamente à porta de casa com claras indicações para não deixar entrar ninguém. Entretanto, Shiva voltava do seu retiro de profunda meditação nos cumes mais afastados e altos dos serenos Himalaias e regressou à sua própria casa cheio de sede, vendo-se impedido de lá entrar, pois o menino vedou-lhe o acesso. Shiva encolerizado, pensando tratar-se de um intruso, fez uso da sua espada e cortou-lhe a cabeça. Parvati ao chegar ao lar, desolada com o cenário com que se deparou, explicou-lhe que acabara de cortar a cabeça ao seu próprio filho. Shiva tomou consciência do que acabara de acontecer e ordenou aos seus serventes que lhe trouxessem uma cabeça de qualquer criatura que se encontrasse a dormir em determinada latitude e longitude. Após demoradas e diligentes buscas, os seus servidores encontraram apenas um elefante nessa posição geográfica e foi essa a cabeça que cortaram e trouxeram. Shiva colocou a cabeça de elefante no corpo de Ganapati (ou Ganesh) e tornou-o digno de veneração pelos homens que iniciassem qualquer empreendimento, seja casamentos, viagens, expedições, estudos, negócios, etc.
Admirado e idolatrado, Ganesh é tido como um intelectual, inteligente, representa o conhecimento e é ele que dita as vastas e sagradas escrituras védicas ao sábio Vyasa (Vyāsa), é o deus patrono dos estudantes, o que afasta os obstáculos no caminho espiritual, dá sorte para negócios, traz sucesso e assegura a vida material. É o Deus da harmonia e da paz. O filho mais velho de Shiva.
Nas suas ilustrações, aparece representado junto a um rato, significando que viaja nele, que mata o egoísmo, e, além disso, que é o criador de todos os seres desde o minúsculo rato ao grandioso elefante. Shiva nomeou-o chefe da tribo dos ganas, os seus fiéis seguidores que habitam no Monte Kailash da cadeia dos Himalaias, daí o seu título: Ganesh ou Ganapati, o Senhor dos ganas.
O nome de Ganesh continua a ser evocado antes do início de qualquer trabalho auspicioso, é o deus do poder e da sabedoria. Quando as mães o veneram, esperam obter para os seus filhos as suas mais ricas virtudes. Assim seja, e pensando nas grávidas que fazem yoga e em toda a gente em geral, que Ganesh possa ser portador de paz, sabedoria, sucesso e excelsas virtudes.


Texto escrito por Cristina Diniz