Patañjali e a codificação do yoga

Patañjali e a codificação do yoga

Patañjali foi um sábio e gramático da Índia. Compilou um dos documentos essenciais para o estudo do yoga – Os sūtras de Patañjali. Sūtras são aforismos, máximas com um sentido profundo redigidas em sânscrito.
Não se consegue aferir ao certo em que data foram compilados estes resumos de debates seculares entre sábios e filósofos. O sutra era habitualmente elaborado no final de longas e aguerridas conversas e retratava as ideias amadurecidas, o consenso e o conhecimento que daí resultavam. O estilo clássico do texto aponta para que tenham sido metodicamente reunidos entre os séculos III e V d.C., no entanto o seu conteúdo indica que foram compendiados no século IV a.C.
Estes sūtras, que consistem em 196 aforismos, são como um código regulador da prática do yoga e tornam evidente que o yoga é uma disciplina que trabalha com a mente, sendo o corpo uma ferramenta adicional para o desempenho prático.
Aprendemos a não nos identificarmos com os conteúdos da mente, a encarar e a observar princípios éticos, a treinar a concentração, a abstração dos sentidos, e essas aprendizagens são aplicadas também na nossa vida real. Aliás, yoga é a vida tal como ela é.
Os Sūtras de Patañjali apresentam os requisitos para a prática do yoga. Se ousarmos fazer uma analogia, é como se o caminho do yoga fosse uma árvore a crescer. Essa sabedoria e crescimento espiritual levam o seu tempo, mas lá está, cada árvore tem o seu ritmo próprio para se desenvolver, todas têm crescimentos diferentes, o certo é que todas procuram alcançar a luz e devemos ter em conta que as árvores mais fortes levam mais tempo a crescer!
São oito os passos para a realização do yoga:
Tal como numa árvore, na sua base, bem enraizados, estão os princípios éticos. Yamas são as regras de conduta, a ética que devemos ter para com a comunidade onde nos inserimos. Niyamas são os princípios éticos que devemos ter para connosco próprios. Ambos permitem estarmos em paz connosco, com a família e a comunidade, são veículos que nos levam à essência de quem somos.
Logo a seguir aparece pratyāhāra, a abstração dos sentidos. Aprendemos a abstrair-nos tanto dos sentidos que nos distraem do que é importante no momento, como também a deixar passar pensamentos sem nos agarrarmos a nenhum deles em particular. Pratyāhāra é não nos deixarmos dominar pelos objetos externos nem pelo poder que exercem sobre a mente, é ganhar controlo sobre os sentidos.
Só em quarto lugar se fala de āsana, as posturas físicas já conhecidas da prática do yoga. Por aqui se depreende que há muito mais para além de simples exercícios com o corpo. Os āsana são o veículo para uma consciência interna mais profunda, são um bom meio de autoconhecimento.
Muito importante nesta ordem são os prāṇāyāma, exercícios de expansão e controlo da respiração, que nos levam a expandir a energia dentro de nós e a chegar a outros estados de consciência. Se focarmos a mente no som e na qualidade da respiração ao praticarmos, os sentidos voltam-se para dentro.
Em sexto lugar surge dhāraṇā, a concentração, o foco, o domínio da mente.
Dhyāna é a meditação, que pode significar o esvaziar dos pensamentos, a reflexão sobre questões profundas ou o reconhecimento do Ser que somos.
E em oitavo e último lugar aparece samādhi, um estado de beatitude e paz, um preparativo estado de iluminação que nos levará finalmente a mokṣa, a libertação.
Mas libertação de quê? Perguntamo-nos com toda a justificação. Simples de dizer, mas difícil de obter: a libertação do sofrimento e da dor, dos nossos condicionalismos, das nossas limitações, para que possamos não nos identificar com esses estados e chegar ao conhecimento de quem verdadeiramente somos.

Texto escrito por Cristina Diniz