Respirar para tranquilizar. Vamos diminuir a ansiedade com Bhrāmārī prāṇāyāma

Respirar para tranquilizar.  Vamos diminuir a ansiedade com Bhrāmārī prāṇāyāma

O nosso quotidiano é agitado por natureza, há sempre afazeres a cumprir, encontros a ter, pressões no trabalho, pessoas mais difíceis com quem lidar, prazos para cumprir, contas a respeitar. Não vivemos isolados numa vastidão clarividente nos Himalaias, nem num deserto de perder de vista ou noutro qualquer cantinho afastado das multidões, de modo que a quietude, a tranquilidade e o controlo sobre as emoções ou agitações mentais são ocasionalmente, e para alguns frequentemente, árduos de obter.
Toda a atividade e filosofia de vida do yoga procuram a supressão das oscilações mentais - citta vṛtti nirodha. Estamos de tal modo focados na nossa respiração, no fluxo de movimentos corporais, detidos na observação de certa parte do físico ou numa fugaz observação cognitiva da mente que os pensamentos reduzem certamente e, no espaço existente entre eles, encontramos quem verdadeiramente somos, descobrimos a nossa essência.
Mesmo aqueles que não praticam yoga (provavelmente sobretudo esses) merecem uns breves minutos para aquietarem e voltarem a atenção para o mundo vibrante existente dentro deles.
Na tentativa de contribuir para uma eventual paz do espírito, aqui fica a partilha de um exercício respiratório ao alcance de todos, basta usar o corpo que temos num recanto à nossa escolha, escutar e sentir.
Bhrāmārī prāṇāyāma é um exercício de controlo e observação da respiração, que nos faz lembrar o zumbido semelhante ao de uma abelha no interior da nossa caixa craniana. Bhrāmār significa abelha e vamos respirar de modo a focarmo-nos na reverberação do som no interior do nosso crânio.
Todos os exercícios respiratórios que impliquem som acalmam a nossa mente, trazem-nos presença e aquietam os pensamentos, este é apenas um deles.
Sentamo-nos numa posição confortável, com as costas direitas, num local onde saibamos que, indo fazer um murmurinho sussurrante, o ambiente à volta não nos distraia nem nos incomode. É claro que se estivermos a praticar junto de outras pessoas numa aula de yoga será o ideal, cada um ao seu ritmo, todos maioritariamente de olhos fechados e com uma energia bem interessante. Não sendo esse o caso, escolhemos um local sossegado e aprazível para esta respiração.
Iremos usar ambos os polegares para tapar cada um dos ouvidos e as palmas das mãos e os restantes dedos envolvem a cabeça. Devemos assegurar-nos de que os dedos não estão dentro da orelha, mas na cartilagem. A pressão do toque do polegar esquerdo no ouvido esquerdo e do polegar direito no ouvido direito vai ser regulada pela pessoa, não deverá ser demasiada, porém o suficiente para pressionar levemente de modo a produzir o que mais se assemelhar ao eco do tal zumbido de uma abelha. Os braços estão ao nível dos ombros com os cotovelos a apontar para os lados.
Inspiramos silenciosa, completa e profundamente pelo nariz e expiramos muito lentamente pelas narinas também, deixando sair um som. É, portanto, uma respiração com ruído e é nele, nessa vibração contínua no interior da caixa craniana, que nos concentramos durante toda a exalação. Devemos repetir cada ciclo de inspiração e expiração algumas vezes, diria que aproximadamente dez a quinze vezes. Se os braços começarem a acusar cansaço, podemos usar os indicadores para pressionar os ouvidos e trazer assim maior relaxamento aos membros superiores. Em yoga não devemos permanecer em desconforto para que haja uma maior presença e menor distração do objetivo principal.
Os benefícios desta técnica respiratória são aquietar a mente, apaziguar as emoções, aliviar a tensão cerebral, o stress, a ansiedade e reduzir a insónia. É uma respiração que fortalece o diafragma. Estimula a glândula pituitária e, como tal, regula o metabolismo. Estimula também o sistema nervoso parassimpático, restabelecendo o corpo num estado de calma.
Reduz os sentimentos de medo e raiva, a agitação e a frustração. É eficaz para pessoas com hipertensão, pois acalma a mente agitada.
Melhora as doenças da garganta e fortalece a voz. Aumenta a memória, a capacidade de concentração e induz ao estado meditativo, pois dirige a atenção ao nosso interior.
Há relatos que também previne as enxaquecas, portanto quem disso sofrer e conseguir antecipar a dor de cabeça que se avizinha, poderá fazer Bhrāmārī prāṇāyāma antes que ela se instale.
É uma respiração aconselhada a praticar na gravidez, pois reduz a ansiedade e os receios do parto, além de que as vibrações sonoras audíveis pelo bebé no útero a partir da décima quarta semana o tranquilizam e estimulam.
Bhrāmārī prāṇāyāma pode ser praticado durante meia hora em casos de extrema tensão mental ou ansiedade. Pode ser feito em qualquer altura do dia, embora o mais indicado seja à noite, melhorando a qualidade do sono, ou de manhã cedo, pois há menos ruídos externos que possam interferir com a nossa perceção interna.
Contraindicações: as pessoas que sejam excessivamente introvertidas devem evitar uma prática prolongada, pois pode aumentar a introspeção. Esta respiração não deve ser praticada por pessoas que sofram de graves infeções nos ouvidos.
Assim sendo, é simples, acessível e resta-nos começar por ouvir a abelhinha dentro de nós e aos poucos almejar ir mais longe e ouvir com plenitude e atenção o nosso coração.

Texto escrito por Cristina Diniz