Respirar pode combater a ansiedade e os ataques de pânico. Sabe o que são prāṇāyāmas?

Respirar pode combater a ansiedade e os ataques de pânico.  Sabe o que são prāṇāyāmas?

Aqui e ali vou sentindo os amigos a mostrarem interesse crescente pelo yoga, seja por alimentarem conversas sobre estados meditativos, inquirindo por quanto tempo devem começar a meditar, se há horas mais aconselháveis para o fazer ou sobre o que meditar; uns também vão lançando apelos do tipo “Mas olha que as não grávidas também precisam de aliviar a tensão e relaxar, quando é a nossa vez?”; outros concordam que mensagens sobre yoga são hoje em dia muito importantes pois as pessoas precisam de ser alertadas para “executar pequenas práticas senão a vida torna-se pesada”; e existem ainda jovens amigos, curiosamente recém-saídos da adolescência, que sentem que respirar é uma aflição, enfrentam faltas de ar e aos quais, depois de vários e corretos exames médicos, lhes são diagnosticados ansiedade e ataques de pânico.
O yoga tem muito para oferecer a todos nós, mas hoje é nestes amigos que penso e relembro que às vezes pode ser tão simples como apenas res-pi-rar.
Todos nós respiramos desde o momento em que nascemos. No yoga não se trata apenas de respirar, mas sim de praticar prāṇāyāmas. É uma técnica que de forma simples se pode definir como controlo e expansão da respiração e consiste em fazê-lo sobretudo de modo consciente. E ao foco da nossa atenção no ato de inspirar e expirar, vamos acrescentar outros atributos, ou seja, fazê-lo de forma ampla, lenta, profunda, completa, controlada, silenciosa e apenas nasal (a respiração yoguica é essencialmente nasal, mas existem outros prāṇāyāmas em que o fazemos também pela boca).
Efetivamente prāṇāyāma é diferente de respiração, pois para respirar não pensamos, é um fenómeno inato, enquanto que prāṇāyāma é um exercício de controlo e expansão da nossa energia vital; ou seja, tornamos o inconsciente consciente! E yoga é consciência! É estarmos no tempo presente, atentos.
Se decompusermos o termo sânscrito prāṇāyāma, encontramos prāṇā e āyāma. āyāma signifca expansão, controlo, domínio. Prāṇā significa alento, respiração, vida, energia vital, a que cada um consegue obter não apenas pelo ar que respira, mas por tudo o que absorve: as emoções que tem, as relações que vivencia, o que visualiza, o efeito dos sons em si, etc.
Por isso, em momentos do nosso quotidiano em que precisemos de parar para acalmar, aliviar tensões, pensar, atenuar algum pânico, enfrentar algum desafio, proponho que, nem que seja por uns breves minutos, estejamos singelamente focados na nossa inspiração e expiração, completamente conscientes desse movimento do ar a entrar e sair dos pulmões, pelas narinas, observando como ocorre e isso inevitavelmente trará descontração e foco.
Ao praticarmos deste modo, corpo e mente estão conectados, conseguimos vivenciar o nosso interior, as ondas mentais tendem a esvanecer, os pensamentos escasseiam, mas mesmo que eles ocorram, pois é natural a mente estar sempre a dar ideias, a projetar pensamentos, a criar expectativas, a julgar, a viver o passado ou especular sobre o futuro, mesmo que tal aconteça, podemos sempre tentar aceitar esses raciocínios, mas não nos devemos apegar a eles, devemos deixá-los passar como nuvens, não os combater e gentilmente voltar ao nosso foco na respiração.
Em termos práticos, pois é o que se precisa: encher lenta e profundamente os pulmões de ar, começando pela parte inferior dos pulmões e simultaneamente talvez conseguir sentir o abdómen a encher como um balão, projetando-se para a frente, preencher depois a parte média ou intercostal dos pulmões, eventualmente detetando as costelas a afastarem-se para os lados e, por último, completar a inspiração preenchendo a parte superior ou clavicular do tronco. E ao expirar, por favor, fazê-lo ainda mais lentamente, com carinho, com consciência, esvaziando primeiro a parte superior dos pulmões, depois a parte média, sentindo que as costelas retornam ao seu lugar e, por último, esvaziar a parte inferior dos pulmões, observando como o abdómen recolhe ligeiramente para dentro quando expiramos todo o ar.
Experimentem!
Que tal conectarmo-nos também connosco próprios e não estar exclusivamente a olhar para fora?
Fica o convite a expandirmos a nossa capacidade respiratória, a conquistar uma maior união com o nosso interior e, quem sabe... vivermos mais felizes, mais calmos, diminuindo o pânico, as aflições. Por vezes está tudo em nós, basta estarmos atentos.

 

Texto escrito por Cristina Diniz