Yoganidrā – Técnica de relaxamento profundo

Yoganidrā – Técnica de relaxamento profundo

O final de ano é sempre apanágio de grande agitação: compras de Natal, preparativos para a passagem de ano, inúmeras refeições de confraternização, urgências no trabalho para conseguir ultimar tudo e fechar o ano em pleno… e nós vamos ganhando o dom da ubiquidade e tentamos chegar a todo o lado, muitas vezes já de rastos e sem o ânimo desejado. Nessas alturas vem mesmo a calhar falarmos sobre um profundo e maravilhoso relaxamento: o yoganidrā.
Trata-se de uma descontração a nível físico, mental e espiritual durante a qual se procura desligar completamente o corpo, entregando-o ao relaxamento, abandonando o corpo de encontro ao chão, mantendo a mente completamente consciente e ativa e procurando não adormecer durante essa prática para que os seus efeitos sejam melhor sentidos e conduzam a uma revigoração da pessoa como um todo.
O termo yoganidrā divide-se em duas palavras principais: yoga e nidrā. Yoga é uma palavra em sânscrito que deriva da raiz Yuj, que significa controlar, unir, concentração, consciência. Yoga é uma prática na qual estamos sempre presentes e conscientes do que está a ocorrer na altura. Nidrā significa sono, um estado em que a consciência se desvanece. O que se procura é um sono consciente ou um sono yogi, através da supressão das oscilações mentais.

Como devemos praticar yoganidrā?

Normalmente o yoganidrā é guiado por um professor de yoga, mas o praticante poderá também induzir o seu próprio relaxamento.
Devemos praticar deitados, o nome desta postura é śavāsana ou mritāsana, e a posição escolhida maioritariamente é em decúbito dorsal (Uttara śavāsana) pois reduz os estímulos sensoriais ao mínimo. As pernas estão abertas à largura pélvica, os braços ao longo do corpo, as palmas das mãos viradas para cima, olhos fechados, queixo em direção ao esterno. Poderá ser colocada uma manta a tapar todo o corpo, uma vez que é feito posteriormente a uma prática de yoga e o corpo tem tendência a arrefecer.
Se pretender guiar o seu próprio yoganidrā, comece pelo foco e descontração das partes do corpo e poderá usar depois visualizações trabalhando a rotação da consciência (inspirar e sentir uma nuvem a envolver o corpo, imaginar-se numa praia, envolvido no cosmos, etc.), poderá fazer microrrelaxamentos (contrair um braço e soltar) e ainda usar gravações ou sites da internet.

A técnica de yoganidrā obedece a determinadas fases:

Entrada: É o trabalho de consciencialização e descontração corporal, começando por levar a consciência e o subsequente relaxamento da pessoa aos seus dedos dos pés, à planta dos pés, tornozelos, pernas, joelhos, coxas, genitais, ancas e ir subindo ao longo de todo o corpo. Também poderá ser feito de modo inverso ou começando pelo lado direito do corpo e depois fazer referência a todo o lado esquerdo do corpo.

Utilização: É a parte onde o estado de relaxamento é reconhecido e aprofundado. Podemos usar visualizações, descrever locais imaginários, criar situações com descrições precisas sobre cores, temperaturas, cheiros, etc. Também podem usar-se técnicas de acesso à pessoa com frases positivas impactantes ou utilizando palavras-chave como confiança, sucesso, coragem ou outras.

Preparação para a saída: Trata-se do retomar suave da consciência corporal, da reentrada sensorial e readaptação ao estado de vigília. É fundamental para que a saída do relaxamento não seja abrupta, dando indicações para a pessoa ir retornando do estado de abandono e relaxamento em que se encontrava.

Saída: Guia-se o praticante a sair do estado de relaxamento através de respirações, da movimentação da língua no interior da boca, da sensação do paladar, da temperatura, levando-o a movimentar os dedos das mãos e dos pés, e, em seguida, as mãos e os pés no seu todo, a espreguiçar-se, a abrir lentamente olhos, a ter consciência dos sons, etc.

Feita a descrição de uma das mais belas técnicas que o yoga tem à nossa disposição, resta desejar que as pessoas tenham a capacidade de relaxar e usufruir desta paragem corporal, que quase se impõe numa sociedade frenética e onde impera o controlo sobre tudo. É importante saber entregar-se, abandonar-se, descontrair o corpo em contacto com a Terra que nos acolhe e deixar a mente relaxar, ampliar e viajar, com confiança e gratidão.


Texto escrito por Cristina Diniz